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sexta-feira, 31 de julho de 2009

Enfim

Ele morava já sozinho. Já sozinho há 3 anos. Ela se foi, enfim. Pensava assim em todas as manhãs que acordava às 7horas. Um suspiro antes de sair da cama. Enfim, era porque ela sofreu muito.
A manhã se fazia de café forte e o jardim nos fundos do quintal. Alface, cebolinha, salsa, coentro, alecrim, louro... no final das tarefas matutinas: as rosas e os brincos de princesa, lembranças vivas deixadas.
Almoço logo na esquina, bem barato e créditos com o dono do Restaurante. A prosa vinha e se estabelecia entre o passado e o presente. “Muita alface bonita” “E a perna machucada de guerra” “A falta que ela me fazia”. O futuro só se apresentava em conversas meteorológicas: “vai chover hoje” “o sol nasce!”. Enfim, o futuro não era tão interessante assim.
A tarde era da varanda. Qualquer distração... vizinho e mais prosa, algo a ser consertado, o rádio e um pouco de música. Tudo terminava no café forte, preto e coado lá pelas 16 horas.
Neste momento em diante era como se a dor voltasse da rua para dormir. Não, dormir significaria repousar enfim. Ela chegava e vigiava o jantar, a televisão, os sonos recortados e o coração de batidas fracas. Uma excelente vigia dos suspiros profundos, dos gemidos sufocados, das ânsias de chorar.
E logo o Sol surgia e tudo se repetia. Os brincos de princesa, da mais bela princesa da saudade, do presente na varanda, onde se podiam entreter as dores profundas do velho coração
. A noite sofrida e o sol logo surgindo.
Um dia de noite intensa. Os brincos de princesa vêm cobrar a ausência de cuidados. O almoço se fez num cheiro que cruzou a janela, mas que não supriu o apetite. Nada a se consertar a não ser a visão estonteada da cama jogada no teto. E a dor impiedosa, deitou junto a cama e conseguiu soprar vagamente suas melodias enfadonhas.
O Sol logo surgia na varanda solitária carregando na mão a Princesa de brincos. O futuro pede desculpa pela demora. Mas já não há mais desassossego para àquele coração. Consertado.
Enfim.
Ana Laura, estava pensando: onde que a rotina nos leva? O mesmo destino, enfim? A única coisa que torna o enfim diferente para cada um é a forma que re-contamos a mesma história. Re-contemos a história a cada dia, então.

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