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domingo, 9 de agosto de 2009

Expressões excluídas da minha agenda revolucionária

Existem expressões que me inquietam bastante, apesar do costume em continuar reproduzindo-as. Sabe àquelas manias que deveriam ser diariamente vigiadas, pois então.
Eu odeio as expressões “Eu faço a minha parte” e “Seu direito começa quando termina o meu”. Estas frases estão bastante enraizadas no cotidiano, acho que por elas terem uma aparência de ética é que as pessoas a utilizam como justificativas. Poxa, mas será que ninguém percebeu o individualismo nisto tudo.
Fazer a parte... a minha parte...a parte que me cabe na consciência? A parte formalmente exigida? A parte que me faria dormir dia e noite na tranqüilidade? Não sei, porque quando penso no mundo do jeito que está não consigo ver a minha parte, não consigo ver como a minha pequena parte mudaria algo e me faria um ser sereno. Claro, e você me dirá: se cada um fizer a sua parte. Sim, mas será que somos cada, será que somos um, será que temos força sozinho? Será se eu fizer a minha parte, alguém vai fazer a dele e sucessivamente terá uma brincadeira de tombar os dominós?
E quando devo cobrar alguém que não está fazendo a parte dele? Como devo cobrar? A minha parte é minha ou ressoa em direitos coletivos...então, se exprime a parte de todos, porque não a expressão
Vamos fazer a parte para todos, com todos e por todos....
Muitos vão dizer que a transformação acontece de dentro para fora. Claro, não posso menosprezar a formação de um ser transformado para que imprima na realidade a transformação. Seria ridícula.
Mas a idéia que sozinhos conseguimos mudar realidades é a mesma idéia que demonstra que cada um deva buscar pelo seu direito. Um dia na história o Egoísmo foi exaltado para que houvesse a justiça social, se cada um buscar seus direitos logo não haveriam pessoas infelizes, porque todos buscariam e manteriam os direitos que eram do seu interesse. Cada um mantendo o seu direito, todos os manteriam, ora, era interesse de cada a conquista do direito. Ninguém pensou que para buscar os direitos, de forma individualizada, todos teriam que estar no mesmo patamar social, cultural, econômico, de respeito e por assim vai. Claro, que no Capitalismo a igualdade e liberdade são condições humanas respeitadas (coff, coff,coff) (bem rasteiramente a ideologia que permeou a economia e a esfera social no começo do Liberalismo)
Esta mesma idéia transita por nós revestida com novo tom, sabe aquela música Vestir o velho com o novo. Pois é, eu sinto assim. Você continua impingindo no mundo a sua verdade, a sua prática, a sua noção de certo e errado e de transformação sem reparar que as suas ações têm que repercutir no todo, no coletivo... e como você pode ser o porta-voz desse coletivo se se acredita que sozinho você faz a diferença? Sozinho você chega no outro, com o outro você transforma.
Sem julgar o certo e o errado de nossas lutas diárias. De repente decidimos em lutar por algo e por algumas coisas sem ao menos saber que existe um coletivo, uma luta de classe, ou de segmento, de grupo ou qualquer aglomeração humana. Perde se a noção de que juntos temos força e que sozinhos somos facilmente estraçalhados.... esconderiam o nosso corpo em baixo do tapete tão facilmente!
Quando estamos sozinhos temos o direito de cometer os erros mais escabrosos. Ora, não teremos parâmetros, não haverão horizontes. Não teremos o outro!
Ninguém é uma ilha, ninguém é sozinho neste mundo e não podemos acreditar que a minha luta é um recorte na sociedade, não podemos permitir que minha voz seja um monólogo, não posso ser beija-flor com gotas de água diante do incêndio. Tudo é muito poético, metáforas lindas, mas sozinhos seremos silenciados, somos enterrados com os nossos sonhos de mundo melhor.
Reflitam: Eu faço Pós Graduação Virtual. O curso não oferece estrutura de ensino aprendizagem condizente para uma especialização. Todavia, os alunos desta pós não conseguem se unir e propor, justamente porque não se conhecem, não se vêem, não tem a sala de aula como palco político de reivindicações, mas, sim, a tela do computador fria e solitária. Isto é vantajoso para quem: para o professor que não se compromete na produção do conhecimento, na faculdade que silencia e desarticula os alunos, os consumidores diretos do "produto" que oferta. Não há muitas vantagens para o aluno.
Nós precisamos pensar no coletivo, agir com o coletivo.
Muitas pessoas se destacam neste coletivo. Seres que emprestaram a voz para que falassem uma gama de outras pessoas, mas eles não estão sozinhos, não fazem dos “pobres” e “infelizes” seu objeto de luta, mas representam a si e os outros que ficaram no anonimato. Representam uma classe que se marginalizou, da qual ele faz parte. E tem mais, precisamos desta figura política, precisamos de ídolos, precisamos dos mártires para nos retirar do marasmo... mas acreditem, eles não estavam sozinhos, talvez pensassem mais em nós do que nós mesmo. Diferente, então, pensar que faziam a parte dele tão somente!
Outro exemplo muito clássico é o Bum do Movimento de Preservação Ambiental conjuntamente com o Bum Venda créditos de carbono. Enquanto nós brasileiros estamos na luta para manter o ambiente despoluído se vende as “atitudes conscientes” como créditos de carbono para que os Estados Unidos e outros países ricos continuem poluindo o mesmo tanto que poluíam. No final, NÓS salvaremos o Planeta Terra?
Só salvaremos o Planeta quando TODAS as nações desejarem esta finalidade.
Tudo começa por um ponto de partida... o homem, a humanidade e a história... sejamos realmente dialéticos, busquemos nos encontrar na humanidade para transformar, para o combate conjunto, não solitário!
Eu tenho medo da solidão que TODAS as pessoas que conheço descrevem na sua vida, eu faço parte deste grupo. Acredito piamente que esta solidão não é só culpa nossa, ela parece ser nossa nova onda de des-pertencimento humano...quanto menos humanos, melhores objetos a serem manipulados. Pensem nisso quando diariamente forem realizar a sua parte...depois de tudo meu conselho é anuncie sua parte com o todo, permita que este todo faça da sua parte a parte coletiva de Todos os anseios.


Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente.


Carlos Drummond de Andrade
Obs: Como o post ficou deveras longo depois continuo escrevendo sobre os limites dos direitos. Desculpem se a contrução de texto transitou pela primeira pessoa do singular e depois primeira do plural, sei que não é formal fazer isto. Escrevo para eu conseguir chegar em você, para que construamos o conhecimento pautado no nós. Ana Laura

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