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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Torna-se mulher



Uma história de prenda feminina, àquelas que são cozinhadas no fogo com cheiros tão sólidos nas narinas.
Uma que começa com uma cantiga de roda, saia cirandada e uma moça de lindo sorriso. Sorriso de rapariga que alcança os corações.
E assim escolhe, de acordo com o cordel e com a benção de um Deus. Deus que se aprende a temer, a calar e curvar.
O buquê em meio a fitas e boneca, se enfeita e se atira no ar, entregue. Enxoval feito de zelos e sonhos. Beijos dos pais na despedida, tão traiçoeiros quanto o da história.
Logo se aprende. Na rasteira dos dias a calejar as mãos e a embalar a fadiga. "Dorme querida, dorme. Preciso trabalhar".
Se re-encontra com o amor indiferente, tão árido quanto o sertão. E a secura toma conta da cama, do quarto e da beleza. Seca as veias, curva o colo e emprenha as ancas.
Então se aprende a sorrir em linha reta, a chorar sem lágrimas e olhar como janela. A segurar o chão com os olhos em dias de briga, a se esquecer de dia e morrer todas as noites.
Aprende a trançar a vida com as das outras mulheres, a re-inventa. Reaprende as pequenas músicas de meninas, as brincadeiras de rodas circulando a mão na barriga.
No fogão queima um pouco da dor . Torna-se mulher.
Ana Laura. Inspiração: Linda Rosa/Maria Gadú

1 Palavras conexadas:

DILERMArtins disse...

Mas bah, guria.
Toda metamorfose causa a dor que é o custo do conhecimento.