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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Todas as vidas- Cora Coralina





Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando pra o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...

Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho,
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.

Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.

Vive dentro de mim
a mulher roceira.
– Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos.
Seus vinte netos.

Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida –
a vida mera das obscuras.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Até breve Mata Atlântica!









Fotos:
1- Planta aquática de algum paraíso particular- Estrada que liga Guarulhos a Nazaré Paulista/SP.
2- Flor comum encontrada na estrada próxima a mata fechada. Dentro há um inseto!
3- Caminhadas matinais próximas a Mata Atlântica. Modelo Mama.
4-Paraíso Particular de alguém- Estrada que liga Guarulhos a Nazaré Paulista/SP.
5- Flor aquática do Paraíso Particular do item de cima.
6- Sítio de Nazaré Paulista e suas lindas árvores.
7- Festa Folclórica de Nazaré Pulista. Igreja.
8- Umas das ruas principais de Nazaré Paulista.
9, 10 e 11- Represa de Nazaré Paulista/SP.
Ana Laura, ocupando outros espaços \0/

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Yann Tiersen e The Piano (Amazing Short)

Música de Yann Tiersen, Comptine dún autre été.

Estou amando este artista e suas músicas.

Ana Laura

sábado, 20 de fevereiro de 2010

ALÉM DA IMAGINAÇÃO

Tem gente passando fome.
E não é a fome que você imagina
entre uma refeição e outra.
Tem gente sentindo frio.
E não é o frio que você imagina
entre o chuveiro e a toalha.
Tem gente muito doente.
E não é a doença que você imagina
entre a receita e a aspirina.
Tem gente sem esperança.
E não é o desalento que você imagina
entre o pesadelo e o despertar.
Tem gente pelos cantos.
E não são os cantos que você imagina
entre o passeio e a casa.
Tem gente sem dinheiro.
E não é a falta que você imagina
entre o presente e a mesada.
Tem gente pedindo ajuda.
E não é aquela que você imagina
entre a escola e a novela.
Tem gente que existe e parece imaginação.




(Ulisses Tavares. Viva a poesia viva. São Paulo, Saraiva, 1997, p. 57)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Torna-se mulher



Uma história de prenda feminina, àquelas que são cozinhadas no fogo com cheiros tão sólidos nas narinas.
Uma que começa com uma cantiga de roda, saia cirandada e uma moça de lindo sorriso. Sorriso de rapariga que alcança os corações.
E assim escolhe, de acordo com o cordel e com a benção de um Deus. Deus que se aprende a temer, a calar e curvar.
O buquê em meio a fitas e boneca, se enfeita e se atira no ar, entregue. Enxoval feito de zelos e sonhos. Beijos dos pais na despedida, tão traiçoeiros quanto o da história.
Logo se aprende. Na rasteira dos dias a calejar as mãos e a embalar a fadiga. "Dorme querida, dorme. Preciso trabalhar".
Se re-encontra com o amor indiferente, tão árido quanto o sertão. E a secura toma conta da cama, do quarto e da beleza. Seca as veias, curva o colo e emprenha as ancas.
Então se aprende a sorrir em linha reta, a chorar sem lágrimas e olhar como janela. A segurar o chão com os olhos em dias de briga, a se esquecer de dia e morrer todas as noites.
Aprende a trançar a vida com as das outras mulheres, a re-inventa. Reaprende as pequenas músicas de meninas, as brincadeiras de rodas circulando a mão na barriga.
No fogão queima um pouco da dor . Torna-se mulher.
Ana Laura. Inspiração: Linda Rosa/Maria Gadú

São tantas coisas que se passam pela minha cabeça, são tantos verbos a flor da pele, são tantas dores, tantos pesares, tantos rancores, mas também tantos risos e sorrisos, tantas vidas e vindas, tantos querer e bem querer e bem viver. Como pode tantos sentimentos em um só coração? Como cabe esse turbilhão em uma alma perdida? E são perguntas sem respostas e são textos mal acabados, e são poemas de uma linha só. E de mim uma parte sorri, a outra gargalhada pelo ar, tem a que chora e também que sofre, mas como não sonhar? Como não sangrar? Ou melhor, como não olhar em frente e seguir? E são mais respostas sem perguntas, e são mais verdades com mentiras, e sendo eu assim tão desigual, ou tão humanamente imperfeita e sagaz. E sendo eu assim tão competente incapaz ou seria ao contrário, ou apenas capaz? Quem me trará as respostas eu não sei as perguntas a vida pouco a pouco tatua em meu ser, e sigo assim nessa perfeita ilusão de sorrisos e lágrimas tão dolorido e intenso e sinceramente tão maravilhoso de se sentir e viver.


Tatiane, 5:00 am. Sim a Insônia chegou mais uma vez.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Campanha contra a exploração sexual 2010

O nome já diz EXPLORAÇÃO SEXUAL.

Exploração: subordinação a algo ou alguém. Relação de opressão, de vatagem sobre o mais fraco. Dicionário: É só pensar um pouco, volume 2010.

Não importa se a menininha ou menininho está rebolando ou se esfregando em vc. Afinal, quem é o adulto?
Não importa se você sabe que ela faz isso para viver. Afinal, quem é o responsável pela proteção daquela criança?
Não importa se o pai/mãe veio e te ofereceu a criança ou o adolescente como objeto (como laranjas). Você tem o dever de dizer NÃO.



Você tem o dever de se importar.
O dever de denúnciar.
O dever de proteger.
O dever com a vida, sempre.




quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Loucos pela tempestade de Norman Ollestad




Estou louca para ler este livro. Chegou a pouco no Brasil e já está fazendo fama entre os leitores. O mais impressionante, pelo menos para muá, é a relação pai e filho. A forma como este pai ensinou o filho a superar os desafios e como isto ajudou o menino a sobreviver.
A partir desta história, talvez, possamos pensar em como somos limitados e criados para ser assim. Acima de tudo, entender o que é superação e como devemos criar a nossa infância.
Se alguém já colocou os dedinhos neste livro, me conta um pouco. E aí, vale a pena?




Ler mais sobre:
http://noticias.bol.uol.com.br/entretenimento/2010/02/06/loucos-pela-tempestade-traz-memorias-de-menino-que-resistiu-a-queda-aerea.jhtm

Pequeno recado de um amigo

Querida. Quantas novidades. Saia desta rotina como quem buscasse discoteca, barulho e luzes. Saia para cair numa guerra maior, na qual sua participação é tão importante. Tenha passos grandes em cidade de gigantes e passos humildes toda vez que precisar de um amigo, estou aqui, afinal. Tenha seu espaço para os dias de tempestades, uma planta para cuidar sempre, um livro para não enlouquecer, uma trilha sonora para abafar o silêncio e um abraço para se recostar. Ame, sim, ame mesmo.

Vão haver dias em que o tédio realmente tem o T bem grande. Outros que os dias passarão como água no ralo. Por isso, marque se no tempo, no espaço e nos corações. É o único jeito de lembrarmos que estamos vivos e pulsando.

Beijos, é meu pequeno recado para você.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Minha Mala e eu.


Minha mala vai cheia de pequenas esperanças, de um tanto de roupa e outro de vivido. Minha mala vai onde eu a carrego, mas seu símbolo foi o que sempre me carregou. Sou cidadã do mundo, primeira vez que disse: a frase se expandiu na sala e se afincou no peito. Sou cidadã do mundo, SIM.
Minha mala vai assim calada e, como dizem, se soubesse falar diria dos lugares que me carregou pela mão.
Em pequenos passos Roma parece muito próxima, mas a ousadia não é tanto. Vou, fico, me encanto, me estresso, saio e tudo com sua validade. Deixo um pouco de poeira e outro de amigos. Agenda lotada para emeios e cartões de Natais. Desculpe, tê-los esquecidos.
Minha mala vai assim, cheia de lembranças. Mas um mapa enorme de possibilidades. Avante, sempre.


Ana Laura. Minhas raízes se desenvolvem no ar.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

As mulheres da minha família

As mulheres da minha família se recortam em pedaços e em colcha transformam-se em mim. Das que viveram na minha história e me marcaram com um sobrenome tamanho. Tenho uns signos e encantos que carrego como tesouros, são risadas e tiques, dos gostos herdados e joelhos tão redondos.
São Amanda e Josefa sedutoras quanto poesia. As vaidades em pequenos detalhes de unhas pintadas de vermelho, em frases sobre o sexo e nos olhares perdidos na multidão. Amores são assuntos prediletos. Decotes, vestidos e rendas. Passionais como perfumes doces. São de adeus e boas vindas, paz e guerra. Sorrisos Altos. Beijos jogados ao vento.
Tem Severina e Luzia calmas, brandas e sofridas. Um pouco de Deus no canto da vida e muito de amor pelos filhos. Flores, crochê, chás, alecrim e erva cidreira. Como não amá-las? Limites fortes e horizontes pequenos, coisas de jardim ou paraíso privado. Mas quando lá se fixa, se fica, se em paz...como cama quente em dia de chuva.
E fica assim um pouco delas em tudo. Um tanto de silêncio em boca vermelha. Outro de acolhida em despedidas. Armário embolorado com roupas novas. Da malicia serena, de jardins públicos, dos traçados das pernas, das delicias e dores herdadas. Meu livro está assim, recortado em sinestesias e escrito a dez mãos.
Rocha, Ana Laura.